quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A Assunção de Nossa Senhora

A ASSUNÇÃO

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«A uma velha capa que São João deixou,
A Virgem Maria ainda a aproveitou…


Escolhendo a parte menos gasta e puída,
Desfaz-lhe as costuras, tira-lhe a medida,

Talha uma roupinha para uma criança
Que era a mais rotinha das da vizinhança.

Prestes a alinhava, logo a cose e prova.
Que linda, que linda! Parecia nova…

Nesse tempo a Virgem quantos anos tinha?
Não ficou a conta. Era já velhinha…

Dava o sol nas casas: brasas de fogueira…
…Horas de descanso, horas de quebreira…

– E da idadem e de cansaço, e de calor –
Lento, a invade toda, um dúlcido torpor…

Fecham-se-lhe os olhos, e descai-lhe a agulha…
…Passa uma andorinha. Uma rolinha arrulha.

As mãos escorregam, ficam-lhe pendentes…
…As cigarras cantam nos trigais dormentes.

E a pendida fronte, – ainda mais pendeu…
E a sonhar com Deus, com Deus adormeceu…


Põe-lhe o manto um anjo, curva-se a compô-lo,
E outros anjos descem, pegam nela ao colo…

Com as leves mãos (penugens de andorinhas)
Vão-na embalando como às criancinhas…

E embalando-a, voam, lá se vão com ela!…
Já lá mais alta que a mais alta estrela!

Outros anjos chegam, querem-na cantar.
Caluda, caluda, que pode acordar…

Que as almas dos justos um hino concertam!
Silêncio, silêncio. Que não a despertem…

Jesus abre os braços, e já quer beijá-la,
Mas pára, detém-se, que pode acordá-la!

E a mãe da Senhora, pediu-lhe a sorrir:
– Mais logo… Mais logo… Deixai-a dormir…

Augusto Gil