Bem cedo comecei
Co martelinho na mão
Mas logo m’apaixonei
P’las pedrinhas no chão
Tony Calceteiro nunca teve a notoriedade de outros ‘Tonis’ da sociedade portuguesa, mas nem por isso deixou de ser tão artista como eles. Munido do martelinho que eternizou nos muitos versos que escreveu, António Mateus Marques andou quase meio século debruçado pelas ruas de Lisboa a deixar pedrinhas no caminho de quem passava. Brancas, pretas, rosa. Em cubo, em hexágono, em triângulo, como calhava. O chão que os lisboetas pisam diariamente tem, quase de certeza, o dedo de Tony Calceteiro, que além de mestre com as pedras ainda mostrou que era mestre com o lápis. À portuguesíssima arte da calçada dedicou Tony muitos poemas.
A calçada começou em Portugal de forma diversa da que hoje é mais corriqueira. São as cartas régias de 20 de Agosto de 1498 e de 8 de Maio de 1500, assinadas pelo rei D. Manuel I, que marcam o início do calcetamento das ruas de Lisboa, mais notavelmente o da Rua Nova dos Mercadores (antes Rua Nova dos Ferros).
A calçada portuguesa rapidamente se espalhou por todo o país e colónias, subjacente a um ideal de moda e de bom gosto,
tendo-se apurado o sentido artístico, que foi aliado a um conceito de funcionalidade, originando autênticas obras-primas nas zonas pedonais. Daqui, bastou somente mais um passo, para que esta arte ultrapassasse fronteiras, sendo
solicitados mestres calceteiros portugueses para executar e ensinar estes trabalhos no estrangeiro.
Em 1986, foi criada uma escola para calceteiros (a Escola de Calceteiros da Câmara Municipal de Lisboa), situada na Quinta Conde dos Arcos. Da autoria de Sérgio Stichini, em Dezembro de 2006, foi inaugurado também um monumento ao calceteiro, sito na Rua da Vitória (baixa Pombalina), entre as Rua da Prata e Rua dos Douradores.
A técnica
Os calceteiros tiram partido do sistema de diaclases do calcário para, com o auxílio de um martelo, fazerem pequenosajustes na forma da pedra, e utilizam moldes para marcar as zonas de diferentes cores, de forma a que repetem os motivos em sequência linear (frisos) ou nas duas dimensões do plano (padrões).
A geometria do século XX demonstrou que há um número limitado de simetrias possíveis no plano: 7 para os frisos e 17 para os padrões. Um trabalho de jovens estudantes portugueses registou, nas calçadas de Lisboa, 5 frisos e 11 padrões, atestando a sua riqueza em simetrias.
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