quarta-feira, 6 de setembro de 2017

"Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a Fé"


Carta aos diocesanos de Lisboa, no início do ano pastoral


Caríssimos diocesanos 

(... continuação)

2. “Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé”, constitui, de facto, um belo programa. Entendendo também que esta “Palavra” é eminentemente pessoal – na pessoa de Cristo, Verbo encarnado, e na comunhão que gera entre as pessoas que somos e aqueles a quem chegarmos.
Assim o afirma o Catecismo da Igreja Católica em dois trechos esclarecedores: «A fé cristã não é uma “religião do Livro”. O Cristianismo é a religião da “Palavra” de Deus, não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo» (nº 108). E mais adiante: «A fé […] não é um ato isolado. Ninguém pode acreditar sozinho, tal como ninguém pode viver só. […] Foi de outrem que o crente recebeu a fé; a outrem a deve transmitir. O nosso amor a Jesus e aos homens impele-nos a falar aos outros da nossa fé» (nº 166).
Temos fé num Deus que nos “fala” na criação e Se diz plenamente na vida de Jesus, onde confluem toda a tradição bíblica e toda a indagação humana. Como escreve Bento XVI: «A Palavra eterna, que se exprime na criação e comunica na história da salvação, tornou-se em Cristo um homem, “nascido de mulher” (Gl 4, 4). Aqui, a Palavra não se exprime num discurso, em conceitos ou regras; mas vemo-nos colocados diante da própria pessoa de Jesus. A sua história, única e singular, é a palavra definitiva que Deus diz à humanidade» (Verbum Domini, nº 11).
Creio ser este o ponto central do nosso programa a cumprir. Importa que uma “ecologia integral”, como o Papa Francisco nos propôs na encíclica Laudato si’, nos faça entender e salvaguardar a criação, como primeira Palavra dum Deus que nos ama e por isso mesmo nos cria e sustenta. E que nas nossas comunidades tudo conflua para Cristo, acolhendo e meditando as Escrituras, nele cumpridas e por nós transmitidas na variedade das línguas e situações deste mundo. Toda a catequese, como o próprio vocábulo significa, há de ser “eco” da Palavra que Deus absolutamente profere em Cristo. Todos os encontros comunitários hão de partir dela, para a concretizar no dia-a-dia pessoal, familiar, eclesial e sociocultural.
(...)

Caríssimos diocesanos: Além de saudar-vos com muita estima, pretendo com esta carta ativar, ainda mais, a receção da Constituição Sinodal de Lisboa, no ano pastoral que iniciamos. Repito que não se trata de fazer necessariamente “mais coisas”. Trata-se sobretudo de prosseguirmos biblicamente inspirados e criativamente conjugados na caminhada que o Espírito impele para a evangelização do mundo, constante “programa” da Igreja. – Nossa Senhora, que inteiramente acolheu, incarnou e ofereceu o Verbo de Deus, nos ensinará a fazê-lo agora!

Convosco, em oração e companhia,

† Manuel, Cardeal-Patriarca 

Lisboa, 1 de Setembro de 2017

Leia toda a carta em 
http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=8070