sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dia de Memória do Holocausto

27 de Janeiro, dia de homenagem às vítimas do Holocausto, devíamos recordar o nosso herói do Holocausto: Aristides de Sousa Mendes, um homem que continua a não ter o reconhecimento que merece. Aristides devia ser um dos heróis da nossa mitologia colectiva, mas não é. Experimentem fazer perguntas sobre Aristides aos miúdos do liceu. A maioria não reconhecerá o nome e, estou certo, uma minoria de arruaceiros confundirá Aristides com um jogador do Borussia de Dortmund ou coisa assim. Neste sentido, vale a pena consultar esta hagiografia (não é uma biografia) de Miriam Assor. Com provas irrefutáveis, o livro revela a grandeza de Aristides de Sousa Mendes.

Logo em 1939, Salazar emitiu a Circular 14, o documento que impedia os embaixadores portugueses de dar vistos aos judeus ("quer tenham sido expulsos do seu país de origem quer do país de onde são cidadãos"). Colocando em causa a sua carreira e a sua família, Aristides, o cônsul português em Bordéus, desafiou Salazar e deu vistos diplomáticos a milhares de judeus. Luxemburgueses, dinamarqueses, noruegueses, belgas e holandeses invadiram Bordéus à procura do Santo Aristides. Desta forma, Aristides tirou 30 mil vidas da linha de montagem assassina. Enquanto a maioria se refugiou no cumprimento da lei (Circular 14), Aristides assumiu que a lei pode ser imoral, assumiu que legalidade pode não ter legitimidade . A sua heroicidade vem daqui.
Tendo em conta a estatura homérica destes actos, não se compreende o relativo desprezo da cultura portuguesa por Aristides. Não há uma grande biografia. Não há um romance. Não há uma série de TV. Não há um filme. Temos um Schindler e não lhe damos valor. É como se a expressão "herói português" fosse, em si mesma, uma contradição em termos. É como se a expressão "herói português" fosse um incómodo para a nossa visão cínica de PortugalLer mais: http://aeiou.expresso.pt/o-nosso-heroi-do-holocausto=f701365#ixzz1kgVzvTAJ