CARTA APOSTÓLICA EM FORMA DE "MOTU PROPRIO"
SPES AEDIFICANDI
PARA A PROCLAMAÇÃO DE SANTA BRÍGIDA DA SUÉCIA, SANTA CATARINA DE SENA
E SANTA BENEDITA DA CRUZ CO-PADROEIRAS DA EUROPA
JOÃO PAULO PP. II
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA
1. A ESPERANÇA DE CONSTRUIR (Spes aedificandi) um mundo mais justo e digno do homem, alentada pela expectativa do terceiro milénio já iminente, não pode prescindir da consciência de que de nada serviriam os esforços humanos se não fossem acompanhados pela graça divina: "Se não for o Senhor a edificar a casa, em vão trabalham os construtores" (Sl 127 [126], 1). Esta é a consideração que devem ter em conta aqueles que, nestes anos, se propõem dar à Europa uma nova ordem que ajude o velho Continente a valorizar as riquezas da sua história, removendo as tristes heranças do passado, para responder com uma originalidade enraizada nas melhores tradições às instâncias de um mundo em mutação.
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Na verdade a Igreja, desde o início da sua história, não deixou de reconhecer o papel e a missão da mulher, apesar de às vezes se ter deixado condicionar por uma cultura que nem sempre lhe prestava a devida atenção. Mas também sobre este aspecto a comunidade cristã foi progressivamente evoluindo, sendo decisivo para este fim o papel desempenhado pela santidade. Um estímulo constante foi oferecido por Maria, a "mulher ideal", a Mãe de Cristo e da Igreja. Mas também a coragem das mártires, que enfrentaram com surpreendente força de espírito os tormentos mais cruéis, o testemunho das mulheres empenhadas com radical exemplaridade na vida ascética, a dedicação quotidiana de tantas esposas e mães naquela "igreja doméstica" que é a família, os carismas de tantas místicas que contribuíram para o mesmo aprofundamento teológico, ofereceram à Igreja uma preciosa indicação para acolher plenamente o desígnio de Deus sobre a mulher. De resto, isto já tem a sua inequívoca expressão em algumas páginas da Sagrada Escritura, e de modo particular na atitude de Cristo testemunhada no Evangelho. É também neste sentido que se propõe a opção de declarar Santa Brígida da Suécia, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz co-Padroeiras da Europa.
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Para edificar a nova Europa sobre bases sólidas, não é decerto suficiente apelar apenas aos interesses económicos, que se em certas ocasiões unem, noutras em contrapartida, dividem; antes, é necessário incidir sobre os valores autênticos, que têm o seu fundamento na lei moral universal, inscrita no coração de cada homem. Uma Europa que confundisse o valor da tolerância e do respeito universal com o indiferentismo ético e o cepticismo acerca dos valores irrenunciáveis, abrir-se-ia às mais arriscadas aventuras e, mais cedo ou mais tarde, veria reaparecer sob novas formas os espectros mais tremendos da sua história.
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11. Ao favorecer uma renovada devoção eu quis, com este anúncio de esperança, valorizar em perspectiva "européia" estas três grandes figuras de mulher, que em várias épocas deram tão significativa contribuição para o crescimento não só da Igreja, mas da mesma sociedade.
Pela comunhão dos santos, que misteriosamente une a Igreja terrestre à celestial, elas velam por nós com a sua perene intercessão junto do trono de Deus. Ao mesmo tempo, a invocação mais intensa e o recurso mais assíduo e atento às suas palavras e exemplos, certamente despertarão em nós uma consciência mais perspicaz da nossa vocação comum à santidade, estimulando-nos a assumir propósitos de um compromisso mais generoso.
Portanto, depois de uma sazonada reflexão, em virtude da minha potestade apostólica, constituo e declaro co-Padroeiras de toda a Europa junto de Deus, Santa Brígida da Suécia, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz, concedendo todas as honras e privilégios litúrgicos que competem, conforme o direito, aos principais Padroeiros dos lugares.
Assim seja para a glória da Santíssima Trindade, que resplandece singularmente nas suas vidas e na vida de todos os santos. A paz aos homens de boa vontade esteja na Europa e no mundo inteiro.
Dado em Roma, junto de São Pedro, a 1 de Outubro de 1999, vigésimo primeiro ano de Pontificado.