"Meus caros pais e mães, colegas de infortúnio, tenho cada vez
mais a certeza de que levar os miúdos à missa é porventura
a melhor educação que lhes podemos dar.
Não estou a falar de instrução, embora a missa não
seja despicienda nesse aspecto. Não é possível compreendemos a
civilização que criámos sem as leituras da Bíblia.
Crente ou não crente, a Bíblia é alta cultura.
Mas hoje quero apenas falar de educação moral.
Na odisseia que é criar uma pessoa decente, entre o cinismo
e a lamechice, a missa é um degrau único.
Em primeiro lugar, a criança aprende ali a estar calada, o que
espantoso nesta época de perpétua conversa; não há telemóvel falado
ou escrito. Aprende o valor do silêncio e da introspecção numa época
que mata o silêncio todos os dias. Estamos na Torre rodeados por
neve e pelo silêncio da montanha, mas o bar tem a música em
altos berros. Quando se pede para baixar, a resposta é,
Não posso! A nossa atmosfera é esta, percebe?
Não, não percebo. A igreja é cada vez mais o
único espaço que educa para o silêncio.
(...)
Em terceiro lugar, a criança aprende na missa que não
é o centro do mundo. Este é talvez o ponto central,
porque vivemos numa sociedade que
deu a soberania à criança. Ela cresce a pensar que tem uma
gravidade especial e que tudo gira mesmo à sua volta,
da televisão ao fim-de-semana dos pais.
Ali, entre cânticos e incenso, ela percebe que afinal
não tem a gravidade de Júpiter. Há um ritual
para cumprir, um rito que é exterior à sua vontade.
Mais importante do que o rito, aprende que há valores eternos
que são mais importantes do que qualquer pessoa ou moda.
(...) 12 de Outubro de 2018"
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